Universidades vão para o interior e aquecem economia das cidades

A  chegada de uma instituição de ensino superior em uma cidade é sinônimo de mais tecnologia, educação e desenvolvimento. Para municípios pequenos, que muitas vezes têm a economia baseada no comércio e no serviço público, uma universidade pode representar um ganho ainda mais visível: construções de moradias, especulação imobiliária e abertura de novos investimentos para atender um  público antes inexistente.

E é isso que vem acontecendo com os municípios de Mamanguape e Rio Tinto, no litoral norte do estado, que há cerca de quatro anos receberam o campus IV da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e já colhem frutos. Em Mamanguape, os mercadinhos cresceram e  a oferta de serviços de alimentação aumentou. A comerciante Flavianny Cartaxo, proprietária de um supermercado no Centro da cidade, revela que a chegada dos estudantes, aliada  à outras obras de grande porte feitas no entorno da cidade, ajudou na ampliação dos comércios.

“Os estudantes sempre vem aqui, isso é muito bom para o desenvolvimento da cidade. O que ainda bloqueia é que João Pessoa fica muito perto de Mamanguape e muita gente faz o bate volta  e não deixa recursos”, aponta Flavianny, lembrando, contudo, que a chegada do ensino superior também traz mão de obra qualificada para a cidade. Uma das funcionárias dela é natural de Pedro Régis (também no litoral norte), mas mora em Mamanguape por conta do curso superior na UFPB.

A estudante é Adelma Caxias, que ressalta a importância da interiorização desse tipo de ensino, do ponto de vista da inclusão social. “Dá oportunidades para pessoas que não podem ir para a capital, por exemplo, por causa do custo de vida mais alto”, comenta. Em todo o entorno do campus da UFPB, que fica já próximo à saída da cidade, surgiram uma série de estabelecimentos para atender aos estudantes: xerox, pizzarias, bares, restaurantes.
A comerciante Auricélia Ferreira foi uma das moradoras que aproveitou o movimento  do campus para ganhar dinheiro. Ela montou uma ‘vendinha’ na própria casa, que fica em frente ao campus, e já obtém lucros. De olho na ampliação da universidade, que prevê a chegada de mais cursos, ela também já planeja aumentar o comércio. “Quero fazer um restaurantezinho para oferecer, além de lanche, almoço para os estudantes”, contou, apontando que o campus trouxe ainda mais segurança para o local. “Todo fim de semana tem policial aqui”.

RUAS PAVIMENTADAS

Também em virtude da chegada da universidade, as ruas que dão acesso ao campus, antes de barro, foram pavimentadas para atender à infraestrutura exigida pelo governo federal, no repasse de recursos para obras públicas. A casa de dona Auricélia sofreu valorização, assim como os prédios vizinhos. Um terreno em frente ao campus que antes era vendido por cerca de R$ 4 mil, já tem especulação de em média R$ 30 mil.

A cerca de cinco quilômetros de Mamanguape, fica a outra unidade do campus IV, localizada no município de Rio Tinto – onde o crescimento se repete. Em um estabelecimento que oferece encadernação e xerox, ao lado da universidade, o aumento da demanda chega a 900%, conforme a funcionária Fernanda Santos. “Enquanto hoje são feitas cerca de mil cópias dia, quando não havia universidade o número era de apenas 100”, revela, acrescentando que “aqui é uma cidade pacata, que ganhou  movimentação com a universidade”.

Muitos moradores investiram no aluguel de casas para garantir uma renda extra, como a própria Fernanda Santos e o marido, que construíram uma casa que é alugada ao preço de R$ 300,00 para os estudantes. Outro morador, José Francisco dos Santos, aumentou a capacidade da pousada que mantinha. “A pousada virou república e é 90% ocupada por estudantes”, contou. Hoje são 21 apartamentos, com uma média de aluguel de R$ 200,00 e que não ficam mais desocupados. Ao lado da pousada, seu José Francisco também mantém um restaurante.
“Aumentou muito a oferta de comida aqui, tanto com restaurante, ou em casas mesmo. Pessoas que tinham dote de culinária passaram a vender refeições”, contou, revelando que também corre pela cidade o comentário que  “a cidade está falando mais correto por conta da chegada da universidade”.

Campus

O campus IV da UFPB, criado em 2006 e instalado no ano seguinte, atende hoje 2.300 alunos, em dez cursos superiores distribuídos pelas duas unidades, Rio Tinto (6) e Mamanguape (4), além de 12 cursos de mestrado. As informações foram dadas pelo diretor do Centro de Ciências Aplicadas e Educação, Alexandre Scaico, que disse ainda que em breve dois novos cursos (letras – português e gastronomia) devem ser ofertados no campus.
O centro ainda não possui residência universitária nem restaurantes,  mas cerca de 10% dos alunos são auxiliados com bolsas para custear as despesas. O diretor de centro destaca  ainda que no campus são desenvolvidos vários projetos ligados à região (na área de ecologia, contabilidade, pedagogia, entre outras), com o intuito de estimular o crescimento dela.

JORNAL DA PARAÍBA
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