Voo AF 447: Robôs submarinos acham corpos 2 anos após acidente


Os investigadores franceses conseguiram achar partes do avião da Air France que caiu no mar há quase dois anos, matando 228 pessoas. Especialistas dizem que por causa do relevo do fundo do mar, onde os destroços foram achados, aumentam as chances de as caixas-pretas serem encontradas. A expectativa é que o mistério do voo AF 447 finalmente seja desvendado. É também para recuperar os corpos que ainda estão no mar que o governo francês retomou as buscas. Os destroços e as caixas pretas do avião têm as informações que podem esclarecer o acidente e melhorar a segurança aérea. Para localizar o ponto exato onde a aeronave afundou, estão sendo usados robôs submarinos. Tecnologia parecida com a que a Universidade de São Paulo (USP) já desenvolveu.
Foi a quarta expedição atrás dos restos do avião da Air France. As imagens divulgadas pelo governo francês mostram as duas turbinas do trem de pouso, parte de uma asa e parte da fuselagem do avião. As fotos foram tiradas pelo Remos 6000 - um submarino robô a dez metros de distância. O trabalho desse equipamento, capaz de vasculhar o oceano, foi explicado com uma animação.
Os restos do avião foram encontrados a 3,9 mil metros de profundidade, em uma área relativamente plana, o que pode facilitar outras buscas. De longe, a imagem mostra que os destroços encontrados estão em uma área de 600 metros de extensão. O chefe das investigações também contou que corpos foram encontrados. Quando os jornalistas pediram mais detalhes, a ministra francesa interrompeu a coletiva. Disse que em respeito às famílias, não responderia mais nada sobre o assunto. Quase todas as 228 pessoas que estavam no voo continuam desaparecidas.
Para os especialistas em oceanografia, o avião caiu exatamente na região onde agora ele está sendo encontrado, há quase quatro mil metros de profundidade. Nessas regiões, as correntes marinhas profundas são muito lentas. Elas chegam a demorar até 500 anos para dar a volta no planeta. Além disso, essas regiões abissais são muito planas. Por isso são chamadas de planícies abissais. O que ninguém entende é por que só agora estão usando esse robô de ampla varredura.
“Não é uma tecnologia nova, mas também não é uma tecnologia muito antiga, já vem sendo rotineiramente utilizada pela indústria do petróleo para a confecção de mapas submarinos. Então é uma ferramenta relativamente conhecida”, aponta Paulo Sumida, professor de oceanografia da USP.
Desde a Guerra Fria, os russos e os americanos já usavam veículos autônomos submarinos para pesquisar o fundo do mar. Estes veículos têm autonomia tanto do ponto de vista da energia quanto da inteligência. O professor de robótica da Poli-USP, Ettore Apolônio de Barros, desenvolveu um desses veículos.
“A partir de pontos que você dá de referência para ele, que são as coordenadas, ele executa manobras entre esses pontos através de um sistema de piloto automático e navegação. Ou seja, ele executa autonomamente, sem intervenção do homem. Enquanto ele está fazendo isso pode, por exemplo, coletar imagens do fundo do mar”, explica.
No vídeo acima, você pode ver imagens do fundo da represa Billings, em São Paulo, feitas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do estado de São Paulo (IPT). É exatamente esse tipo de imagem que o Remos – veículo autônomo que procura os restos do avião da Air France – registra do fundo do mar. As imagens são produzidas através de um sonar.
“Os franceses têm um instituto que é muito grande, muito bom, com alta tecnologia marinha e robótica Agora eles optaram por chamar esse instituto americano, que é um dos maiores do mundo. Eles convidaram justamente por causa dessa tecnologia de AUV, que a gente chama de veículo autônomo, submersível. Provavelmente por causa da experiência deles nessa área. Mas eu acredito que os próprios franceses poderiam ter feito isso também, eles têm tecnologia para isso”, opina Paulo Sumida, professor de oceanografia da USP.
Até hoje, só foram recuperados os corpos de 50 dos 228 passageiros. Parentes das vítimas brasileiras que estavam no voo ainda não foram oficialmente comunicados sobre a localização de mais corpos.
G1
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