A vida é muito bela,
Nós temos que dar valor,
Aproveitar os momentos,
Guardar bem o que passou,
Saber viver o presente
Com amigos e parentes
Ou seja lá com quem for.
Se o instante for de dor,
Que possamos refletir
No que devemos fazer
E entender que o existir
É feito de mal e bem,
De sim, não, talvez, porém,
De chorar e de sorrir.
A vida é o provir,
É o ontem, é o agora,
É o ganhar, é o perder,
É água, é luz, é flora,
É o saber, é a ignorância,
É a miséria, é a bonança,
É fogo, é dentro, é fora.
É o chegar, é ir embora,
É chuva, é sol, é dia,
É noite, é acordar,
É dormir, é ventania,
É o correr, é caminhar
Mas também se sentar,
É prosa e é poesia...
É tristeza, é alegria,
É o que não sei escrever.
A vida é um mistério,
Talvez se aprenda ao morrer,
E eu peço licença aqui
Para poder exprimir
O meu cordel pra você.
A história vou oferecer
A um ente muito amado
Que já não está entre nós:
Nilton foi pro outro lado,
Mas se estivesse aqui
Ele morreria de rir,
Pois o causo é engraçado.
Um dia eu estava sentado
Embaixo de um juazeiro,
Lá no sítio Pé Branco,
09 do mês de janeiro,
2004, o ano,
Ao lado do quase mano
Elineto, o verdadeiro,
Aliás, é o primeiro
Na arte de bem mentir,
De contar história engraçada
Pra fazer o povo rir,
E o que ele me contou,
Depois que a gente almoçou,
Eu faço o registro aqui.
Nós estávamos ali
Um pouco a descansar
Esperando tio Raimundo
Zaca e Doutor pra contar
O nosso trabalho final:
Medir as terras do Vital,
O que este tinha pra herdar.
- Nenem eu vou lhe contar,
começava Elineto,
Contar o que aconteceu
Num lugar aqui bem perto,
você preste atenção
E veja quem tem razão,
Se isso é errado ou certo:
Um menino bem esperto,
Certa noite começou
a choramingar bastante
E muito tempo passou
Chamando pelos pais,
Vizinhos não tinham paz,
Todo o mundo escutou.
O danado abusou,
Parecia está doente:
- "Quên,Quên,Quên,Quên,Quên,Quên,"
O pai com raiva dizia,
- "Cala a boca Abdia,
Vai durmir, se acalente".
O menino descontente
continuava a chorar.
- "Será pussive miué,
Que o diabo num vai pará?
Trabaiei o dia intêro
E essa peste, desordêro,
Não me deixa descansar?!
Levanta muié, vai lá,
Sabê o qui ele qué?
Acenda a lamparina,
Faça logo o qui pudé,
Mande ele calá a boca,
Será que você tá môca?
Isso é um cabaré!"
Finalmente a mulher
Foi à rede do menino:
- "O qui tu qué disgraçado?
Laiga de tu sê traquino,
Num viu qui teu pai falô
Qui ainda não descansou?
Te aquiéta e vai durmino!
Zé, ele tá insistino
E qué falá é cum você,
Dixe qui tá cum fome!"
- "Ora, o qui é qui eu vô fazê?
Não tem nada a essa hora,
Só me fartava isso agora,
O qui mais se farta vê?!
O pai não queria entender
Aquela reclamação,
A mãe voltou pro seu quarto,
Pra Zé dava explicação:
"Num sei o qui se passou,
Esse menino jantou,
Cumeu feito um lião!"
Não havia trégua não,
O menino aperreava:
- "Quên,Quên,Quên,Quên,Quên,"
E direto ele gritava:
- "Ô pai, eu tô é cum fome!"
- "Parece qui num é hômi?!
E o menino não parava.
Quando não mais aguentava,
Zé, da cama levantou:
- "O qui diabo tu qué?
Com raiva ele indagou.
- "Pai eu quero é cumer,
Mas eu tem medo de dizê,
De expricar pu sinhô".
- "Meu fi, me faça o favô,
Diga logo o qui tu qué,
Pá vê se nóis te arranja
E acaba esse labacé,
Eu tô querendo durmir,
Bem cedo eu vou partir,
Pu roçado de Mané".
- "Se eu pidir o qui quisé,
O sinhô num acha rim?
- Peça meu fi, num se acanhe!"
- "E se o sinhô mangá de mim?
- "Qui istóra é essa Abdia?
Dêxe logo de agonia,
pode pidir qui eu digo sim!
E o menino falou assim:
- "Pai, eu quero cumer bosta!
Pode até ser muito estranho,
Eu num sei se o sinhô gosta,
Mas bosta eu quero cumer
E o sinhô pode trazer
Numa bacia feito posta".
O pai quase cai de costa
Com a conversa de Abdias.
- "Pai, num faça uma desfeita,
Num me corte essa aligria!
Vá la fora no oitão,
Cague logo um toletão
E traga em minha bacia".
E o pai com muita ironia
L ogo trouxe pro herdeiro:
"I nda farta alguma coisa?"
"N ão, mas eu vou ser verdadeiro,
E sse banquete aqui
T á certo, eu só como si
O sinhô cumer primeiro".
FIM