Coluna escrita por Francisco Valmir Lopes. 30 anos. Casado. Católico Apostólico Romano. Natural de Santa Helena-PB. Bacharel em Direito pela UFCG. Aprovado pela OAB-PB. Servidor da Justiça Eleitoral.
Saudades da Mamãe
O início do mês de maio é recheado de lindas mensagens dedicadas às mães. Quando criança, ainda não existia a internet, e a mídia televisiva ainda não tinha tanta expansão, então eu me deliciava ao ouvir mensagens e canções através de rádio AM.
Quem nunca ouviu frases como “coração de mãe, sempre cabe mais um”; Mãe, a flor que mora no meu jardim”; Mãe, tão importante que até Deus quis ter uma!”; Mãe, sinônimo de amor”. Aliás, dois nomes de pequena escrita e de significado imensurável. Quem não considera como pior xingamento o direcionado a sua mãe?
A verdade é que é de agrado incomparável ter a mãe por perto. Deliciar de seus manjares. Dialogar com ela, ouvir histórias, ganhar suas carícias e até ouvir seus ‘sermões’. Para quem não mora com a sua, vir à casa de mamãe, então, é programa incomparável. Entretanto, para quem não mais pode fazer isso, resta saudades...
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SaudadeS... |
Vivi tudo de bom com minha mãe, Helena Lopes. Ela não só me gerou, me carregou nove meses em seu ventre, sofreu as dores do parto, amamentou etc., ela quem me iniciou nos estudos, desde as primeiras letras e números, as primeiras leituras, fez todo o acompanhamento do desenvolvimento escolar, cultural, moral e religioso.
Quem a conheceu é testemunha, de como ela criou, cuidou, ensinou, amou, todos os seus filhos. De quanto trabalhou, sofreu, enfrentou intempéries das secas nordestinas, da miséria, dos infortúnios de saúde, dos vários problemas econômicos, sociais, e políticos, típicos de nossa região. Mas é pelo fogo que se experimenta o ouro e a prata (Eclo. 2, 6).
Ademais, até mesmo Sheakpeeare já dizia: “Não é digno de saborear o mel aquele que se afasta da colméia com medo da picada das abelhas”.
Aliás, como já me disse um sacerdote, se para morrer basta está vivo, sofrer é mais fácil ainda. Já, conforme professor Felipe Aquino, em seu livro ‘Educar através da conquista e da fé’, “o sofrimento é inerente a grandeza de um ser”, só o homem que foi criado à imagem e semelhança de Deus, que é racional, sofre e ‘sabe que sofre’.
Todos testemunham o quanto boa mãe, esposa, filha, amiga era ela. Sua vida foi uma expressão de fé em Deus, e muitos lembram nela a prova viva do trecho Bíblico que está em Lucas, capítulo 6, versículo 44a.
Enfim, tendo seu espelho em Maria, mãe de Deus, fez de sua vida uma doação.
Mãe, como sempre a chamei, partiu muito jovem, menos de 54 anos. Isso, aumentou a minha dor e desconsolo. Mas hoje vejo que ela viveu muito. Teve que amadurecer muito cedo. Seus dias vividos valeram por semanas! Como a parábola da boa videira: “um por cem” (Mc 4, 20). Cumpriu, pois, sua missão.
Seus dias foram de sofrimento, mas também de glórias e de alegrias, por isso vivia sempre a agradecer e louvar a Deus.
Seus últimos dias foi de dor e sofrimento, mas que suportara com paciência, sem resmungo, e com oração. Procurava ao máximo que nós filhos não percebêssemos o quanto sofria, dizia que “uma mãe é para cem filhos, e cem filhos não é para uma mãe!”.
O princípio de seu fim, nesta vida, foi com uma cirurgia, que demorou cerca de sete horas, que teve de passar por UTI, e saiu com sérias lesões no cérebro, deixando-a incapaz de falar e andar. Mas se recuperou dessas habilidades. Isso foi no dia 08 de dezembro de 2006. Dia da Imaculada Conceição. Jamais, nossa mãezinha a deixaria ir naquele dia...
Esperançosa, acreditava na vida, mas, ainda assim, teve que reconhecer que seria seus últimos instantes nesta vida.
Instantes estes que eu presenciei, foi num leito de UTI, pulmões completamente comprometidos, de forma que respirar era doloroso e impraticável. De terço na mão, podíamos ver sua paz apesar da dor. Mas quanta dor! Não só nela como também em nós! Ainda assim, seu semblante era de paz. Assim como a árvore cai sempre do lado em que viveu inclinada, caiu nos braços de Maria e do Sagrado Coração de Jesus.
Ah! como eu queria não viver aquilo! Mas lembrando de suas palavras, de sua vida, pude enxergar que, de fato, melhor que um filho veja sua mãe partir, do que uma mãe ver o seu filho partir! Deve ser dor inconsolável.
Minha mãe também teve de suportar essa dor, seu primogênito de sexo masculino, com apenas 1 ano e 9 meses. Pior, quase perdeu outro num acidente automobilístico. Esta dor eu lhe causei, mesmo sem intenção, e foi uma das causas a acelerar o câncer, doença cruel e fatal, que a acometeu.
Dia 14 de junho de 2007, véspera da festa do Coração de Jesus, do qual era devotíssima, foi o dia de sua passagem. Ah!como não queria passar por aquele dia! O chão desabou sob meus pés... fiquei inconsolável. Perdi o sentido da vida...
Mas com o tempo, a Providência Divina foi me mostrando o verdadeiro sentido da vida Cristã: a vida não acaba neste mundo. E a certeza de vê-la na próxima, para apagar a saudade, foi o que me revigorou.
Foi a partir de então que pude rever a vida de minha mãe, passando a absorver seus ensinamentos, ensinamentos estes embasados nos de Cristo.
Assim vivo curtindo a saudade da minha Mãe, sem olvidar nem descuidar da minha vida, dos meus, minha filha e esposa, pai, irmãos, sobrinhas, demais parentes e amigos.
Até breve, minha mãe!
13 de junho de 2011 às 13:08
Que filho amoroso! Parabéns pelo texto que mostra a consciência de um filho criado com amor e carinho. Que no céu sua mãe esteja ouvindo o que escrevestes agora.
13 de junho de 2011 às 17:45
Essas Lembranças, querido irmão nunca sairão de nossas lembranças!
Saudades, saudades, saudades...
Maria Valcilene Lopes
14 de junho de 2011 às 19:36
Uma mulher inesquecivél...
Titia eternas saudades!!!!
7 de julho de 2011 às 16:09
Valmir,
Um fruto como vc, só pederia nascer de uma árvore, alicerçada no amor por seus entes queridos, no respeito ao próximo e principalmente na fé em DEUS. Foi assim que vc descreveu a estada de sua mãe,aqui na terra, pra nós leitores. E o melhor, é que ela consegiu passar toda essa sabeodria pra sua prole, ora representada por vc. Parabéns.
Corrinha.